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sexta-feira, 19 de abril de 2013


Casa da Ponte, por Fiume, julho 2005

8ª A-             Camila,

                      Excelente material sobre Cora Coralina

http://cdeassis.wordpress.com/2009/08/05/cora-coralina-um-modo-diferente-de-contar-velhas-historias/

Cora Coralina: um modo diferente de contar velhas histórias


Cora Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas (20-08-1889) era o nome civil deCora Coralina, a grande, a enorme poeta de Goiás. A primeira se foi em 10 de abril de 1985, mas nos deixou eternizada a sua criatura poética. Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano e criou, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos A Rosa. Em 1910, seu primeiro conto, Tragédia na Roça, é publicado no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás, já com o pseudônimo de Cora Coralina.

Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos: Paraguaçu,Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP).

Em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que, em 1965, lança seu primeiro livro, O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Em 1976, é lançado Meu Livro de Cordel, pela editora Cultura Goiana. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade, como era de seu feitio, após ler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu trabalho, a qual, ao ser divulgada, desperta o interesse do público leitor e a faz ficar conhecida em todo o Brasil.

Dizia Drummond: “Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia ( …).” (dados extraídos do livroEstórias da Casa Velha da Ponte, Global Editora)

Pedi à minha amiga e também poeta goiana Saramar Mendes de Souzalicença para publicar um belo texto que ela escreveu sobre Cora. Vai abaixo, como apresentação nobre dos poemas que se seguem, com meu agradecimento.

A CASA DE CORA

Saramar Mendes Souza


Escrevi este pequeno texto, a pedido de minha amiga, a poeta Graça Graúna.


Humildade

Senhor, fazei com que eu aceite

minha pobreza tal como sempre foi.

Que eu possa agradecer a Vós

minha cama estreita,

minhas coisinhas pobres,

minha casa de chão,

pedras e tábuas remontadas.

E ter sempre um feixe de lenha

debaixo do meu fogão de taipa,

e acender, eu mesma,

o fogo alegre da minha casa

na manhã de um novo dia que começa.


Cora Coralina

A cidade de Goiás, mais conhecida por Goiás Velho, foi fundada às margens do Rio Vermelho, em 1722, pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera (palavra indígena que significa “diabo velho”). Foi capital de Goiás (o Estado) até 1933.

Hoje, tombada pela Unesco, principalmente pela arquitetura característica da época colonial, é um dos principais atrativos turísticos da regição centro-oeste. Suas ruas, seu casario, os prédios públicos e as igrejas, conservados, recebem milhares de visitantes todos os anos. Neste cenário, às margens do Rio Vermelho, foi construída, na segunda metade do século XVIII, uma casa em pedra e adobe destinado a ser o escritório da cobrança do Quinto, imposto sobre todo o ouro extraído na região. Há aproximadamente 200 anos, esta casa foi comprada por antepassados de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985), poetisa e doceira, conhecida como Cora Coralina, que a cantou em verso e prosa.

Casa da Ponte, por Fiume, julho 2005

Casa da Ponte, por Fiume, julho 2005

Atualmente, a casa de Cora, também chamada de Casa da Ponte, abriga um museu permanente com objetos pessoais da poetisa, além de um miniauditório. A casa apresenta características típicas da arquitetura colonial brasileira. Composta por duas residências unidas por um único telhado, a construção de madeira tem paredes de pau-a-pique e adobe, usadas como proteção das enchentes do Rio Vermelho.

Por falar em enchentes, em 31 de dezembro de 2001, dezoito dias depois do seu tombamento pela Unesco, a cidade de Goiás foi inundada pelo Rio Vermelho que destruiu parte do seu patrimônio, vitimando também a Casa da Ponte, danificando os móveis, o piso e muro, mas que, felizmente, manteve sua estrutura.Porém, como diz o ditado popular, há males que vêm para o bem. Foi o que se deu com a casa de Cora.Depois da enchente, a parte física, o mobiliário e os documentos iconográficos foram restaurados, a um custo de R$150 mil, pagos inteiramente por uma operadora de telefonia. Os governos, de qualquer esfera, não destinaram um centavo para a reconstrução (*).

Após a recuperação, o museu instalado na Casa da Ponte passou a adotar os conceitos sugeridos pelo Conselho Internacional de Museus visando à valorização da personalidade de Cora Coralina.Neste sentido, estão em evidência os objetos pessoais de Cora, como os manuscritos e as fotografias (recuperados por técnicos da Imprensa Nacional no Rio de Janeiro), a mobília original, a máquina de datilografia, a máquina de costura, os registros fotográficos e os prêmios.

Além da parte interna, o quintal de Cora também foi renovado, com a recuperação das hortas, das árvores (resedá, mangueira, cuité, jabuticabeira, guariroba, jaqueira, laranja-da-terra, cajazinha) e da pequena bica d’água existente no porão da Casa Velha.

Foto: Márcio Couto

Foto: Márcio Couto

Localização: Rua Dom Cândido (Rua dos Mercadores), n.º 20

Telefone: (62) 3371-1990

Visitação: terça a sábado, de 09h às 17h, e domingo de 9h às 16h.

Minha casa velha da ponte… assim a vejo e conto, sem datas e sem assentos. 

Assim a conheci e canto com minhas pobres letras. Desde sempre. Algum dia cerimonial foste casa nova, num tempo perdido do passado, quando mãos escravas a levantaram em pedra, madeirame e barro. Esquadrejaram tua ossatura bronca, traçaram teus barrotões na cava certa e profunda dos esteios altos, encaixaram teus linhamentos, cumeeiras, pontaletes, freixais, arrochantes e empenas, duras aroeiras, lavradas a machado, com cheiro de florestas, arrastadas em carretões de bois.

Cora Coralina

________________________

(*) Correio Braziliense


EU VOLTAREI


PalmeiraGuariroba

Palmeira Guariroba

Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho,

servidor do próximo,

honesto e simples, de pensamentos limpos.

Seremos padeiros e teremos padarias.

Muitos filhos à nossa volta.

Cada nascer de um filho

será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.

A árvore de Paulo, a árvore de Manoel,

a árvore de Ruth, a árvore de Roseta.

Seremos alegres e estaremos sempre a cantar.

Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas,

teremos uma fazenda e um Horto Florestal.

Plantaremos o mogno, o jacarandá,

o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.

Plantarei árvores para as gerações futuras.

Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros.

Terão moinhos e serrarias e panificadoras.

Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens

e mulheres, ligados profundamente

ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.

E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou

milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros.

Eu voltarei…

A pedra do meu túmulo

será enfeitada de espigas de trigo

e cereais quebrados

minha oferta póstuma às formigas

que têm suas casinhas subterra

e aos pássaros cantores

que têm seus ninhos nas altas e floridas

frondes.

Eu voltarei…



CONCLUSÕES DE ANINHA


Estavam ali parados. Marido e mulher.

Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça

tímida, humilde, sofrida.

Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,

e tudo que tinha dentro.

Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar

novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,

entregou sem palavra.

A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,

se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar

E não abriu a bolsa.

Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar

e a mulher participa sem ajudar.

Da mesma forma aquela sentença:

“A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar.”

Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,

o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso

e ensinar a paciência do pescador.

Você faria isso, Leitor?

Antes que tudo isso se fizesse

o desvalido não morreria de fome?

Conclusão:

Na prática, a teoria é outra.



VELHO


Cuité

Cuité

Estás morto, estás velho, estás cansado!

Como um suco de lágrimas pungidas

Ei-las, as rugas, as indefinidas

Noites do ser vencido e fatigado.

Envolve-te o crepúsculo gelado

Que vai soturno amortalhando as vidas

Ante o repouso em músicas gemidas

No fundo coração dilacerado.

A cabeça pendida de fadiga,

Sentes a morte taciturna e amiga,

Que os teus nervosos círculos governa.

Estás velho estás morto! Ó dor, delírio,

Alma despedaçada de martírio

Ó desespero da desgraça eterna.



RESSALVA

Versos… não

Poesia… não

um modo diferente de contar velhas histórias



ASSIM EU VEJO A VIDA

Resedá


Resedá

A vida tem duas faces:

Positiva e negativa

O passado foi duro

mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar suas limitações

E me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo

Aprendi a viver.



MASCARADOS

Saiu o Semeador a semear

Semeou o dia todo

e a noite o apanhou ainda

com as mãos cheias de sementes.

Ele semeava tranqüilo

sem pensar na colheita

porque muito tinha colhido

do que outros semearam.

Jovem, seja você esse semeador

Semeia com otimismo

Semeia com idealismo

as sementes vivas

da Paz e da Justiça.



ANINHA E SUAS PEDRAS

Não te deixes destruir…

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede.



O CÂNTICO DA TERRA

Jabuticabeira

Jabuticabeira

Eu sou a terra, eu sou a vida.

Do meu barro primeiro veio o homem.

De mim veio a mulher e veio o amor.

Veio a árvore, veio a fonte.

Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.

Sou o chão que se prende à tua casa.

Sou a telha da coberta de teu lar.

A mina constante de teu poço.

Sou a espiga generosa de teu gado

e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.

De mim vieste pela mão do Criador,

e a mim tu voltarás no fim da lida.

Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.

Tua filha, tua noiva e desposada.

A mulher e o ventre que fecundas.

Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.

Teu arado, tua foice, teu machado.

O berço pequenino de teu filho.

O algodão de tua veste

e o pão de tua casa.

E um dia bem distante

a mim tu voltarás.

E no canteiro materno de meu seio

tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.

Lavremos a gleba.

Cuidemos do ninho,

do gado e da tulha.

Fartura teremos

e donos de sítio

felizes seremos.



O PASSADO…

Jaqueira

Jaqueira

O salão da frente recende a cravo.

Um grupo de gente moça

se reúne ali.

“Clube Literário Goiano”.

Rosa Godinho.

Luzia de Oliveira.

Leodegária de Jesus,

a presidência.

Nós, gente menor,

sentadas, convencidas, formais.

Respondendo à chamada.

Ouvindo atentas a leitura da ata.

Pedindo a palavra.

Levantando idéias geniais.

Encerrada a sessão com seriedade,

passávamos à tertúlia.

O velho harmônio, uma flauta, um bandolim.

Músicas antigas. Recitativos.

Declamavam-se monólogos.

Dialogávamos em rimas e risos.

D.Virgínia. Benjamim.

Rodolfo. Ludugero.

Veros anfitriões.

Sangrias. Doces. Licor de rosa.

Distinção. Agrado.

O Passado…

Homens sem pressa,

talvez cansados,

descem com leva

madeirões pesados,

lavrados por escravos

em rudes simetrias,

do tempo das acutas.

Inclemência.

Caem pedaços na calçada.

Passantes cautelosos

desviam-se com prudência.

Que importa a eles o sobrado?

Gente que passa indiferente,

olha de longe,

na dobra das esquinas,

as traves que despencam.

— Que vale para eles o sobrado?

Quem vê nas velhas sacadas

de ferro forjado

as sombras debruçadas?

Quem é que está ouvindo

o clamor, o adeus, o chamado?…

Que importa a marca dos retratos na parede?

Que importam as salas destelhadas,

e o pudor das alcovas devassadas…

Que importam?

E vão fugindo do sobrado,

aos poucos,

os quadros do Passado.




TODAS AS VIDAS

Vive dentro de mim

uma cabocla velha

de mau-olhado,

acocorada ao pé

do borralho,

olhando para o fogo.

Benze quebranto.

Bota feitiço…

Ogum. Orixá.

Macumba, terreiro.

Ogã, pai-de-santo…

Vive dentro de mim

a lavadeira

do Rio Vermelho.

Seu cheiro gostoso

d’água e sabão.

Rodilha de pano.

Trouxa de roupa,

pedra de anil.

Sua coroa verde

de São-caetano.

Vive dentro de mim

a mulher cozinheira.

Pimenta e cebola.

Quitute bem feito.

Panela de barro.

Taipa de lenha.

Cozinha antiga

toda pretinha.

Bem cacheada de picumã.

Pedra pontuda.

Cumbuco de coco.

Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim

a mulher do povo.

Bem proletária.

Bem linguaruda,

desabusada,

sem preconceitos,

de casca-grossa,

de chinelinha,

e filharada.

Vive dentro de mim

a mulher roceira.

Enxerto de terra,

Trabalhadeira.

Madrugadeira.

Analfabeta.

De pé no chão.

Bem parideira.

Bem criadeira.

Seus doze filhos,

Seus vinte netos.

Vive dentro de mim

a mulher da vida.

Minha irmãzinha…

tão desprezada,

tão murmurada…

Fingindo ser alegre

seu triste fado.

Todas as vidas

dentro de mim:

Na minha vida –

a vida mera

das obscuras!

_____________________

OBSERVAÇÃO NECESSÁRIA

As desorientações da Internet

Eu estou entre aqueles a achar que a Internet foi uma das maiores – senão a maior – invenções das últimas décadas. É responsável pela democratização da informação e do conhecimento. E, apesar do que pensam alguns, aproxima pessoas e constrói comunicação universal.

Mas, de vez em quando, vemos como ela também é mal utilizada. Um exemplo recolhi enquanto preparava o material sobre Cora Coralina. Verifiquei que um poema a ela atribuído tem mais de 19 mil registros no Google. É um campeão de visualização. Entretanto, uma pequena nota em um blog dá conta de que tal obra não é da poeta goiana. Vejam:

“Não Sei ou Saber Viver não é de Cora Coralina. Após contato com Célia Bretas Tahan, jornalista, escritora e neta de Cora Coralina, esta confirmou que todos os poemas inéditos de Cora se encontram em poder de sua mãe, Vicência Brêtas Tahan (única filha de Cora ainda viva e autora da biografia romanceada Cora Coragem Cora Poesia) e o poema vinculado pela mídia como Não Sei, O que dá sentido a vida ou Saber Viver, não faz parte deste acervo.”

Outras fontes o reproduzem como de “autor desconhecido”. Isso tem ocorrido com outros autores. Luiz Fernando Veríssimo, Jorge Luiz Borges e Gabriel García Márquez já foram alvo de tais brincadeiras literárias. Se os autores dos trotes internetianos têm qualidades para escrever, por que não seguem as próprias trilhas, enquanto ainda se mantêm sobre duas patas?

(Cleto de Assis)

fonte: 
http://cdeassis.wordpress.com/2009/08/05/cora-coralina-um-modo-diferente-de-contar-velhas-historias/

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