Cora Coralina
MEU DESTINO
Nas palmas de tuas mãos leio as linhas da minha vida. Linhas cruzadas, sinuosas, interferindo no teu destino. Não te procurei, não me procurastes – íamos sozinhos por estradas diferentes. Indiferentes, cruzamos Passavas com o fardo da vida... Corri ao teu encontro. Sorri. Falamos. Esse dia foi marcado com a pedra branca da cabeça de um peixe. E, desde então, caminhamos juntos pela vida...
Eu sou a terra, eu sou a vida. Do meu barro primeiro veio o homem. De mim veio a mulher e veio o amor. Veio a árvore, veio a fonte. Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida. Sou o chão que se prende à tua casa. Sou a telha da coberta de teu lar. A mina constante de teu poço. Sou a espiga generosa de teu gado e certeza tranqüila ao teu esforço. Sou a razão de tua vida. De mim vieste pela mão do Criador, e a mim tu voltarás no fim da lida. Só em mim acharás descanso e Paz.
Eu sou a grande Mãe Universal. Tua filha, tua noiva e desposada. A mulher e o ventre que fecundas. Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.
A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu. Teu arado, tua foice, teu machado. O berço pequenino de teu filho. O algodão de tua veste e o pão de tua casa.
E um dia bem distante a mim tu voltarás. E no canteiro materno de meu seio tranqüilo dormirás.
Plantemos a roça. Lavremos a gleba. Cuidemos do ninho, do gado e da tulha. Fartura teremos e donos de sítio felizes seremos.
Um montão disforme. Taipas e pedras, abraçadas a grossas aroeiras, toscamente esquadriadas. Folhas de janelas. Pedaços de batentes. Almofadados de portas. Vidraças estilhaçadas. Ferragens retorcidas.
Abandono. Silêncio. Desordem. Ausência, sobretudo. O avanço vegetal acoberta o quadro. Carrapateiras cacheadas. São-caetano com seu verde planejamento, pendurado de frutinhas ouro-rosa. Uma bucha de cordoalha enfolhada, berrante de flores amarelas cingindo tudo. Dá guarda, perfilado, um pé de mamão-macho. No alto, instala-se, dominadora, uma jovem gameleira, dona do futuro. Cortina vulgar de decência urbana defende a nudez dolorosa das ruínas do sobrado — um muro.
Fechado. Largado. O velho sobrado colonial de cinco sacadas, de ferro forjado, cede.
Bem que podia ser conservado, bem que devia ser retocado, tão alto, tão nobre-senhorial. O sobradão dos Vieiras cai aos pedaços, abandonado. Parede hoje. Parede amanhã. Caliça, telhas e pedras se amontoando com estrondo. Famílias alarmadas se mudando. Assustados - passantes e vizinhos. Aos poucos, a " fortaleza " desabando.
Quem se lembra? Quem se esquece?
Padre Vicente José Vieira. D. Irena Manso Serradourada. D. Virgínia Vieira - grande dama de outros tempos. Flor de distinção e nobreza na heráldica da cidade. Benjamim Vieira, Rodolfo Luz Vieira, Ludugero, Angela, Débora, Maria... tão distante a gente do sobrado...
Bailes e saraus antigos. Cortesia. Sociedade goiana. Senhoras e cavalheiros... -tão desusados... O Passado...
A escadaria de patamares vai subindo... subindo... Portas no alto. À direita. À esquerda. Se abrindo, familiares.
Salas. Antigos canapés. Cadeiras em ordem. Pelas paredes forradas de papel, desenho de querubins, segurando cornucópia e laços. Retratos de antepassados, solenes, empertigados. Gente de dantes.
Grandes espelhos de cristal, emoldurados de veludo negro. Velhas credências torneadas sustentando jarrões pesados. Antigas flores de que ninguém mais fala! Rosa cheirosa de Alexandria. Sempre-viva. Cravinas. Damas-entre-verdes. Jasmim-do-cabo. Resedá. Um aroma esquecido - manjerona.
O salão da frente recende a cravo. Um grupo de gente moça se reúne ali. "Clube Literário Goiano". Rosa Godinho. Luzia de Oliveira. Leodegária de Jesus, a presidência.
Nós, gente menor, sentadas, convencidas, formais. Respondendo à chamada. Ouvindo atentas a leitura da ata. Pedindo a palavra. Levantando idéias geniais.
Encerrada a sessão com seriedade, passávamos à tertúlia. O velho harmônio, uma flauta, um bandolim. Músicas antigas. Recitativos. Declamavam-se monólogos. Dialogávamos em rimas e risos.
D. Virgínia. Benjamim. Rodolfo. Ludugero. Veros anfitriões. Sangrias. Doces. Licor de rosa. Distinção. Agrado.
O Passado...
Homens sem pressa, talvez cansados, descem com leva madeirões pesados, lavrados por escravos em rudes simetrias, do tempo das acutas. Inclemência. Caem pedaços na calçada. Passantes cautelosos desviam-se com prudência. Que importa a eles o sobrado?
Gente que passa indiferente, olha de longe, na dobra das esquinas, as traves que despencam. -Que vale para eles o sobrado?
Quem vê nas velhas sacadas de ferro forjado as sombras debruçadas? Quem é que está ouvindo o clamor, o adeus, o chamado?... Que importa a marca dos retratos na parede? Que importam as salas destelhadas, e o pudor das alcovas devassadas... Que importam?
E vão fugindo do sobrado, aos poucos, os quadros do Passado.
Quando eu era menina bem pequena, em nossa casa, certos dias da semana se fazia um bolo, assado na panela com um testo de borralho em cima.
Era um bolo econômico, como tudo, antigamente. Pesado, grosso, pastoso. (Por sinal que muito ruim.)
Eu era menina em crescimento. Gulosa, abria os olhos para aquele bolo que me parecia tão bom e tão gostoso.
A gente mandona lá de casa cortava aquele bolo com importância. Com atenção. Seriamente. Eu presente. Com vontade de comer o bolo todo.
Era só olhos e boca e desejo daquele bolo inteiro. Minha irmã mais velha governava. Regrava. Me dava uma fatia, tão fina, tão delgada... E fatias iguais às outras manas. E que ninguém pedisse mais! E o bolo inteiro, quase intangível, se guardava bem guardado, com cuidado, num armário, alto, fechado, impossível.
Era aquilo, uma coisa de respeito. Não pra ser comido assim, sem mais nem menos. Destinava-se às visitas da noite, certas ou imprevistas. Detestadas da meninada.
Criança, no meu tempo de criança, não valia mesmo nada. A gente grande da casa usava e abusava de pretensos direitos de educação.
Por dá-cá-aquela-palha, ralhos e beliscão. Palmatória e chineladas não faltavam. Quando não, sentada no canto de castigo fazendo trancinhas, amarrando abrolhos. "Tomando propósito". Expressão muito corrente e pedagógica.
Aquela gente antiga, passadiça, era assim: severa, ralhadeira.
Não poupava as crianças. Mas, as visitas... - Valha-me Deus !... As visitas... Como eram queridas, recebidas, estimadas, conceituadas, agradadas !
Era gente superenjoada. Solene, empertigada. De velhas conversar que davam sono. Antiguidades...
Até os nomes, que não se percam: D. Aninha com Seu Quinquim. D. Milécia, sempre às voltas com receitas de bolo, assuntos de licores e pudins. D. Benedita com sua filha Lili. D. Benedita - alta, magrinha. Lili - baixota, gordinha. Puxava de uma perna e fazia crochê. E, diziam dela línguas viperinas: "- Lili é a bengala de D. Benedita". Mestre Quina, D. Luisalves, Saninha de Bili, Sá Mônica. Gente do Cônego Padre Pio.
D. Joaquina Amâncio... Dessa então me lembro bem. Era amiga do peito de minha bisavó. Aparecia em nossa casa quando o relógio dos frades tinha já marcado 9 horas e a corneta do quartel, tocado silêncio. E só se ia quando o galo cantava.
O pessoal da casa, como era de bom-tom, se revezava fazendo sala. Rendidos de sono, davam o fora. No fim, só ficava mesmo, firme, minha bisavó.
D. Joaquina era uma velha grossa, rombuda, aparatosa. Esquisita. Demorona. Cega de um olho. Gostava de flores e de vestido novo. Tinha seu dinheiro de contado. Grossas contas de ouro no pescoço.
Anéis pelos dedos. Bichas nas orelhas. Pitava na palha. Cheirava rapé. E era de Paracatu. O sobrinho que a acompanhava, enquanto a tia conversava contando "causos" infindáveis, dormia estirado no banco da varanda. Eu fazia força de ficar acordada esperando a descida certa do bolo encerrado no armário alto. E quando este aparecia, vencida pelo sono já dormia. E sonhava com o imenso armário cheio de grandes bolos ao meu alcance.
De manhã cedo quando acordava, estremunhada, com a boca amarga, - ai de mim - via com tristeza, sobre a mesa: xícaras sujas de café, pontas queimadas de cigarro. O prato vazio, onde esteve o bolo, e um cheiro enjoado de rapé.
Sinto que sou abelha no seu artesanato. Meus versos tem cheiro de mato, dos bois e dos currais. Eu vivo no terreiro dos sítios e das fazendas primitivas. (...) Minha identificação profunda e amorosa com a terra e com os que nela trabalham. A gleba me transfigura. Dentro da gleba, ouvindo o mugido da vacada, o mééé dos bezerros. O roncar e focinhar dos porcos o cantar dos galos, o cacarejar das poedeiras, o latir do cães, eu me identifico. Sou arvore, sou tronco, sou raiz, sou folha, sou graveto sou mato, sou paiol e sou a velha tulha de barro.
pela minha voz cantam todos os pássaros, piam as cobras e coaxam as rãs, mugem todas as boiadas que vão pelas estradas. Sou espiga e o grão que retornam a terra. Minha pena (esferográfica) é a enxada que vai cavando, é o arado milenário que sulca. Meus versos tem relances de enxada, gume de foice e o peso do machado. Cheiro de currais e gosto de terra. (...) Amo aterra de um velho amor consagrado. Através de gerações de avós rústicos, encartados nas minas e na terra latifundiária, sesmeiros. A gleba está dentro de mim. Eu sou a terra. (...) Em mim a planta renasce e flosrece, sementeia e sobrevive. Sou a espiga e o grão fecundo que retorna à terra. Minha pena é enxada do plantador, é o arado que vai sulcando. Para a colheita das gerações. Eu sou o velho paiol e a velha tulha roceira. Eu sou a terra milenária, eu venho de milênios Eu sou a mulher mais antiga do mundo, plantada e fecundada no ventre escuro da terra.
Milho... Punhado plantado nos quintais. Talhões fechados pelas roças. Entremeado nas lavouras, Baliza marcante nas divisas. Milho verde. Milho seco. Bem granado, cor de ouro. Alvo. Às vezes vareia, - espiga roxa, vermelha, salpintada.
Milho virado, maduro, onde o feijão enrama Milho quebrado, debulhado na festa das colheitas anuais.
Bandeira de milho levada para os montes largada pelas roças: Bandeiras esquecidas na fartura. Respiga descuidada dos pássaros e dos bichos.
Milho empaiolado. abastança tranqüila do rato, do caruncho. do cupim. Palha de milho para o colchão. Jogada pelos pastos. Mascada pelo gado. Trançada em fundos de cadeiras.
Queimada nas coivaras. Leve mortalha de cigarros. Balaio de milho trocado com o vizinho no tempo da planta. "- Não se planta, nos sítios, semente da mesma terra".
Ventos rondando, redemoinhando. Ventos de outubro.
Tempo mudado. Revôo de saúva. Trovão surdo, tropeiro. Na vazante do brejo, no lameiro, o sapo-fole, o sapo-ferreiro, o sapo-cachorro. Acauã de madrugada marcando o tempo, chamando chuva. Roça nova encoivarada, começo de brotação. Roça velha destocada. Palhada batida, riscada de arado. Barrufo de chuva. Cheiro de terra; cheiro de mato, Terra molhada, Terra saroia. Noite chuvada, relampeada. Dia sombrio. Tempo mudado, dando sinais. Observatório: lua virada. Lua pendida... Circo amarelo, distanciado, marcando chuva. Calendário, Astronomia do lavrador.
planta de milho na lua-nova. Sistema velho colonial. Planta de enxada. Seis grãos na cova, quatro na regra, dois de quebra. Terra arrastada com o pé, pisada, incalcada, mode os bichos.
Lanceado certo-cabo-da-enxada... Vai, vem... sobe, desce... terra molhada, terra saroia... Seis grãos na cova; quatro na regra, dois de quebra Sobe. Desce... Camisa de riscado, calça de mescla Vai, vem... golpeando a terra, o plantador.
Na sombra da moita, na volta do toco - o ancorote d'água:
Cavador de milho, que está fazendo? A que milênios vem você plantando. Capanga de grãos dourados a tiracolo. Crente da Terra, Sacerdote da terra. Pai da terra. Filho da terra. Ascendente da terra. Descendente da terra. Ele; mesmo; terra.
Planta com fé religiosa. Planta sozinho, silencioso. Cava e planta. Gestos pretéritos, imemoriais... Oferta remota; patriarcal. Liturgia milenária. Ritual de paz. Em qualquer parte da Terra um homem estará sempre plantando, recriando a Vida. Recomeçando o Mundo.
Milho plantado; dormindo no chão, aconchegados seis grãos na cova. Quatro na regra, dois de quebra. Vida inerte que a terra vai multiplicar
Evém a perseguìção: o bichinho anônimo que espia, pressente. A formiga-cortadeira - quenquém. A ratinha do chão, exploradeira. A rosca vigilante na rodilha, O passo-preto vagabundo, galhofeiro, vaiando, sorrindo... aos gritos arrancando, mal aponta. O cupim clandestino roendo, minando, só de ruindade.
E o milho realiza o milagre genético de nascer: Germina. Vence os inimigos, Aponta aos milhares. - Seis grãos na cova. - Quatro na regra, dois de quebra, Um canudinho enrolado. Amarelo-pálido, frágil, dourado, se levanta. Cria sustância. Passa a verde. Liberta-se. Enraíza, Abre folhas espaldeiradas. Encorpa. Encana. Disciplina, com os poderes de Deus.
Jesus e São João desceram de noite na roça, botaram a bênção no milho, E veio com eles uma chuva maneira, criadeira, fininha, uma chuva velhinha, de cabelos brancos, abençoando a infância do milho.
O mato vem vindo junto, Sementeira.
As pragas todas, conluiadas. Carrapicho. Amargoso. Picão. Marianinha. Caruru-de-espinho. Pé-de-galinha. Colchão. Alcança, não alcança. Competição. Pac... Pac... Pac... a enxada canta. Bota o mato abaixo. arrasta uma terrinha para o pé da planta. "...- Carpa bem feita vale por duas..." Quando pode. Quando não... sarobeia. Chega terra O milho avoa.
Cresce na vista dos olhos. Aumenta de dia. Pula de noite. Verde Entonado, disciplinado, sadio.
Agora... A lagarta da folha, lagarta rendeira... Quem é que vê? Faz a renda da folha no quieto da noite. Dorme de dia no olho da planta, Gorda; Barriguda. Cheia. Expurgo: nada... força da lua.., Chovendo acaba - a Deus querê.
"O mio tá bonito..." "-Vai sê bão o tempo pras lavoras todas." "-O mio tá marcando..." Condieionando o futuro: "- O roçado de seu Féli tá qui fais gosto... Um refrigério" "- O mio lá tá verde qui chega a s'tar azur..." - Conversam vizinhos e compadres.
Milho crescendo, garfando, esporando nas defesas...
Milho embandeirado. Embalado pelo vento.
"Do chão ao pendão, 60 dias vão".
Passou aguaceiro, pé-de-vento. "- O milho acamou..." "- Perdido?"... Nada... Ele arriba com os poderes de Deus..." E arribou mesmo; garboso, empertigado, vertical
No cenário vegetal um engraçado boneco de frangalhos sobreleva, vigilante. Alegria verde dos periquitos gritadores... Bandos em seqüência... Evolução... Pouso... retrocesso.
Manobras em conjunto. Desfeita formação. Roedores grazinando, se fartando, foliando, vaiando os ingênuos espantalhos.
"Jesus e São João andaram de noite passeando na lavoura e botaram a bênção no milho". Fala assim gente de roça e fala certo. Pois não está lá na taipa do rancho o quadro deles, passeando dentro dos trigais? Analogias... Coerências.
Milho embandeirado bonecando em gestação. - Senhor!... Como a roça cheira bem! Flor de milho, travessa e festiva. Flor feminina, esvoaçante, faceira. Flor masculina - lúbrica, desgraciosa.
Bonecas de milho túrgidas, negaceando, se mostrando vaidosas. Túnicas, sobretúnicas... saias, sobre-saias... Anáguas... camisas verdes. Cabelos verdes... - Cabeleiras soltas, lavadas, despenteadas... - O milharal é desfile de beleza vegetal.
Cabeleiras vermelhas, bastas, onduladas. Cabelos prateados, verde-gaio. Cabelos roxos, lisos, encrespados. Destrançados. Cabelos compridos, curtos, queimados, despenteados. Xampu de chuvas... Flagrâncias novas no milharal. - Senhor, como a roça cheira bem!...
As bandeiras altaneiras vão se abrindo em formação. Pendões ao vento. Extravasão da libido vegetal. procissão fálica, pagã. Um sentido genésico domina o milharal. Flor masculina erótica, libidinosa, polinizando, fecundando a florada adolescente das bonecas:
Boneca de milho, vestida de palha... Sete cenários defendem o grão Gordas, esguias, delgadas; alongadas Cheias, fecundadas. Cabelos soltos excitantes. Vestidas de palha. Sete cenários defendem o grão, Bonecas verdes, vestidas de noiva Afrodisíacas, nupciais...
De permeio algumas virgens loucas... Descuidadas. Desprovidas. Espigas falhadas. Fanadas. Macheadas.
Cabelos verdes. Cabelos brancos. Vermelho-amarelo-roxo, requeimado... E o pólen dos pendões fertilizando... Uma fragrância quente, sexual invade num espasmo o milharal. A boneca fecundada vira espiga. Amortece a grande exaltação. Já não importam as verdes cabeleiras rebeladas A espiga cheia salta da haste. O pendão fálico vira ressecado, esmorecido, No sagrado rito da fecundação.
Tons maduros de amarelo. Tudo se volta para a terra-mãe. O tronco seco é um suporte, agora, onde o feijão verde trança, enrama, enflora.
Montes de milho novo, esquecidos, marcando claros no verde que domina a roça. Bandeiras perdidas na fartura das colheitas. Bandeiras largadas, restolhadas. E os bandos de passo-pretos galhofeiros gritam e cantam na respiga das palhadas.
"Não andeis a respigar" - diz o preceito bíblico O grão que cai é o direito da terra. A espiga perdida - pertence às aves que têm seus ninhos e filhotes a cuidar. Basta para ti, lavrador, o monte alto e a tulha cheia. Deixa a respiga para os que não plantam nem colhem - O pobrezinho que passa. - Os bichos da terra e os pássaros do céu.
Renovadora e reveladora do mundo A humanidade se renova no teu ventre. Cria teus filhos, não os entregues à creche. Creche é fria, impessoal. Nunca será um lar para teu filho. Ele, pequenino, precisa de ti. Não o desligues da tua força maternal. Que pretendes, mulher? Independência, igualdade de condições... Empregos fora do lar? És superior àqueles que procuras imitar. Tens o dom divino de ser mãe Em ti está presente a humanidade.
Mulher, não te deixes castrar. Serás um animal somente de prazer e às vezes nem mais isso. Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar. Tumultuada, fingindo ser o que não és. Roendo o teu osso negro da amargura.
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